Tuesday, October 26, 2010

Quando a natureza nos torna pequenos


Por ocasião das minhas pesquisas para o projeto de Mestrado, tive a felicidade de fazer algumas visitas à áreas de pesquisa na Floresta Amazônica. Mais precisamente na última ocasião, pude ficar um dia inteiro e até tarde da noite para colher dados de temperatura e umidade.

Ao entrar na floresta, senti a extrema pequenez à qual ela nos submete. Mesmo em uma pequena área é possível testemunhar a comunhão das mais diversas espécies de plantas, insetos, animais. De repente, ao caminhar por uma picada na mata, encontro um pequeno igarapé serpenteando dentro da mata, como um vaso capilar conduzindo a energia para as partes mais escondidas do nosso corpo. As nuvens, nas indas e vindas, carregam a água que cai impiedosa e exageradamente fundamental. Sem muitos aviso aos, como eu, marinheiros (ou seria mateiros?) de primeira viagem, sou surpreendido pela chuva ao meio-dia e sou obrigado a interromper minhas medidas para depois do almoço.

É impressionante. A floresta é um organismo vivo. Sustenta-se de forma autônoma. Evolui. Avança, cresce, expande-se. E consegue fazer tudo isso com harmonia e equilíbrio. A natureza realmente nos ensina muito. E uma das primeiras lições é que precisamos totalmente dela e que ela em nada depende de nós. De repente, um gavião se sustenta por cima das árvores, planando à procura do seu almoço. Lembrou-me da estória do leão que todos os dias sai à caça, num compromisso capital pela própria vida.

Todo este cenário foi fascinante, inclusive na parte da noite, quando, ao erguer a cabeça e mirar o céu, pude ser testemunha do brilho do maior número de estrelas que já havia visto. Numa noite especialmente sem nuvens, o céu teve literalmente luz própria. Uma experiencia para guardar com carinho.

Para me despedir, cito um trecho do texto do Relatório Amazônia Viva, cujo líder foi Francisco José Ruiz Marmolejo, que fala o seguinte:
"Em lugar nenhum da Terra a teia da vida é tão intrincada e exuberante quanto na Amazônia. Aqui, a maior bacia hidrográfica do planeta forma um gigantesco sistema vital para a maior e mais diversificada floresta tropical do mundo. Há milênios, povos indígenas se valem dos serviços ambientais e recursos naturais da região que conforme demonstra esta publicação, ainda nos esforçamos para compreender totalmente"

Nunca essas palavras tiveram tanto sentido para mim.

Friday, March 19, 2010

O crack e a devastação do ser humano

Menor fumando crack (Créditos: Renata Azevedo - Unicamp. Março de 2001)

Estes dias aqui em Campinas assisti a várias reportagens de vítimas do crack. Tristes mesmo, como a da mãe que se fez obrigada a acorrentar o filho em casa para que ele não fosse em busca da droga. O menino tem 13 anos e já está internado para tratamento.

Isso me lembrou um episódio insólito que me aconteceu no ano passado. Dirigi-me à Santa Ifigênia para comprar uma placa de um aparelho de lavar roupa para o meu pai e me informaram que eu encontraria perto dali, na rua Helvetia. Ao seguir pela Av. Rio Branco, encontrei a tal rua, mas em vez de seguir pela esquerda, dobrei à direita, achando que estaria próximo da tal região das lojas de peças para máquinas de lavar.

Ao seguir caminhando, fui procurando as tais lojas, sem sucesso, a não ser pelas lavanderias da região. Numa travessa desta rua perguntei a dois guardas civis se eu poderia encontrar essas lojas por ali e me recomendaram perguntar a alguém das lavanderias. Pois fui seguindo pela rua Helvetia e, aos poucos, fui percebendo que estava no lugar errado. De repente, alguém me aborda, sem que eu parasse, dizendo:
- Aê, mano. Vai querer quanto..?

Depois disso, ao ver pessoas do outro lado da rua, lembrei-me de tantas imagens e reportagens sobre aquele lugar: a Crackolândia! A minha primeira reação foi guardar meu relógio e apertar o passo, numa tentativa de escapar dali, sem chamar muita atenção. Havia me dado conta, pois, o porquê de algumas pessoas me olharem meio torto enquanto adentrava àquela rua. Para muitos, poderia ser mais um "playboy" indo atrás do "produto".

O meu medo e desespero foram, aos poucos, no entanto, dando lugar a uma profunda tristeza e consternação ao notar a precariedade e calamidade às quais os viciados estavam ali expostos. A degradação era algo que nunca havia visto na vida. Era como se uma miséria profunda os tivesse atingido. A consciência e dignidade humanas haviam dado lugar ao caos e à regressão total de suas mentes. A droga havia provocado a devastação a todos ali: mulheres, homens, mães com crianças de colo, ora sentadas à beira da calçada, comendo com a mão restos de comida, ora dormindo no chão frio com cobertores imundos, ora pedindo esmolas que fatalmente seriam usadas para compra das pedras, ora dialogando sem nexo uns com os outros.

Alheio a isso tudo, passando à margem, foi difícil passar por ali sem poder tomar atitude alguma para minimizar aquele sofrimento. Quase sufocante, pois a impotência nos torna reféns das nossas pernas, que nos levam para longe dali, como num ato reflexo, de sobrevivência. Finalmente pude ver com meus próprios olhos aquilo que sempre me ensinaram: que as drogas, algumas vezes símbolos da liberdade, torna prisioneiro quem as usa, quase sempre em cárcere privado, sem direto a visitas e de modo perpétuo. Entrar é fácil. Uma vez dentro, sair é uma guerra. Isso porque as drogas, especialmente o crack, geram, além de uma dependência psicológica, uma dependência química, e em alguns casos, física. O cérebro não permite mais ao viciado tomar conta de sua vida, pois ele passa a ditar as necessidades do corpo, sempre em torno da droga.

Hoje quando vejo uma reportagem sobre viciados, procuro imaginar qual o sofrimento e histórico daquela pessoa. Quais as circunstâncias que o levaram a iniciar o processo de devastação e o que o impede de sair dele. Sabe-se que muitos querem no seu íntimo, no que lhes sobrou de humanidade e inteligência, se livrar desse mal. Mas também se sabe que o contato com traficantes - os "amigos" - , a falta de apoio da família e da própria sociedade impedem este resgate daquele que é vítima, mas é considerado bandido.

Encontrei a placa a várias quadras dali, na direção contrária. Choveu forte no caminho e encontrei a peça numa loja próxima à estação de metrô Santa Cecília. Mas essa experiência foi cruelmente inesquecível. E me pergunto: quais as ações que podemos tomar para que isso nunca mais torne a acontecer?

Thursday, December 31, 2009

É tempo...


Acabou-se o dia.

Acabou-se o ano.

Acabou-se a década.

Nada mais volta. Tudo está estampado como uma placa de bronze em frente ao monumento. Nossos nomes e nossas ações. As consequências, porém, persistem.

É hora do balanço. É hora da reflexão.

Se até os bancos fecham no útimo dia do ano para o balanço, quanto mais nós, com nossas vidas e planejamentos.

Sim. Viveremos mais, mas viveremos melhor se soubermos onde pisamos e se evitarmos erros no futuro. Os erros do passado, grandes ou pequenos, irão nos acompanhar e, se não formos sábios, nos atormentar.


Feliz futuro a todos nós.

Monday, August 03, 2009

Massa e o Príncipe Zuko

Galera, o Massa acaba de chegar da Hungria e, vejam vocês, ele me lembrou muito o príncipe Zuko, do Anime Avatar.
Brincadeiras à parte, que o máximo que ele chegue a parecer com alguém do Reino do Fogo seja a Fênix. Do nada ao tudo!

Boa recuperação, guerreiro!

Friday, July 31, 2009

Ouro, César Cielo! Mas... É do Brasil?


Estes dias de Mundial de Roma são realmente fantásticos. Nada que seja comparado a uma Olimpíada, mas realmente a superação, a força e a técnica chamam a atenção. Assim como no Atletismo, as provas da Natação revelam uma realidade dura do esporte individual nacional.

César Cielo! Fantástico! Fenomenal! Mas nada disso "Made in Brazil". Cielo, obviamente iniciado na Natação no Brasil, viu que apenas no exterior sua carreira e performance poderiam ter uma evolução. E assim foi feito. Inscreveu-se numa universidade americana, começou a treinar forte, com dedicação máxima, e assim pôde ver os resultados chegando.

Tudo isso renunciando a amigos, família e, de certo modo, à própria vida. Investindo em si mesmo, com os recursos que tem, porque caso contrário nada lhe haveria. Por isso eu digo que muito (ou quem sabe tudo) da cor da medalha que ele hoje carrega no peito não tem nada de verde-amarela, mas simplesmente "colore del Cielo".

Este auto-investimento não é exclusividade dele, Muitos outros nadadores e atletas, como Jadel Gregório, precisam sair do país para poderem se submeter a uma nova realidade: a do alto rendimento e excelência. O próprio país oferece um limite ao crescimento dos mesmos.

Por isso, insisto e afirmo. Sem a profissionalização e fiscalização das confederações esportivas no Brasil, continuaremos a depender, cada vez mais, de esforços individuais como o de Cielo para ver a bandeira brasileira hasteada no ponto mais alto. Tomemos como exemplo o vôlei que hoje representa um nível de competência no esporte capaz de se tornar referência.

Parabéns, Cesar Cielo. O Brasil tem orgulho de você. Mas seu próprio país não merece suas lágrimas no pódio.

Saturday, July 18, 2009

Sobre carreiras e pessoas


Galera,

visitando o perfil do meu amigo Robson Belo no Orkut, encontrei estas palavras que podem servir de inspiração para muitos, como serviu para mim.

Entrevista - Reynold Remhn
por Max Gehringer

Existem muitos gurus que sabem dar respostas criativas as grandes questões sobre o mercado de trabalho.Aqui vai um pequeno resumo de uma entrevista do famoso REYNOLD REMHN.

Primeira Pergunta: Ainda é possível ser feliz um mundo tão competitivo?
Resposta: Quanto mais conhecimentos conseguimos acumular, mais entendemos que ainda falta muito para aprender. É por isso que sofremos. Trabalhar em excesso é como perseguir o vento. A felicidade só existe para quem souber aproveitar agora os frutos do seu trabalho.

Segunda pergunta: o profissional do futuro será um individualista?
Resposta: Pelo contrário. O azar será de quem ficar sozinho, porque se cair, não terá ninguém para ajudá-lo a se levantar.

Terceira pergunta: Que conselho o Sr. dá aos jovens que estão entrando no mercado de trabalho?
Resposta: Que é melhor ser criticado pelos sábios do que ser elogiado pelos insensatos. Elogios vazios são como gravetos atirados numa fogueira.

Quarta pergunta: E para os funcionários que tem chefes centralizadores e perversos?
Resposta: Muitas vezes os justos são tratados pela cartilha dos injustos, mas, isso passa. Por mais poderosa que essa pessoa pareça ser, essa pessoa ainda será incapaz de dominar a própria respiração.

Última pergunta: O que é exatamente o sucesso?
Resposta: É o sono gostoso. Se a fartura do rico não o deixa dormir, ele estará acumulando, ao mesmo tempo sua riqueza e sua desgraça.

Belas e Sábias palavras...Eu só queria me desculpar pelo fato de que não existe nenhum REYNOLD REMHN. Eu o inventei. Todas as respostas, embora extremamente atuais, foram tiradas de um livro escrito há 2.300 anos atrás... O Eclesiastes, do Velho Testamento bíblico. Mas, se eu digo logo no começo, muita gente, talvez, nem teria interesse em continuar ouvindo.

Tuesday, June 30, 2009

A saga

Pessoal, estou numa das missões mais difíceis da minha vida!

Estou em São Paulo para trabalhar e me dedicar para concluir o meu Mestrado, que se iniciou em 2006. Não tem sido fácil, apesar de todas as ajudas que tenho recebido. Parece até uma Saga, da qual já participou meu pai e minhas tias nos anos 70, e da qual eu mesmo participo, nesta Selva de Pedra, Concreto e Aço.

O importante é que, a cada dia, enxergo os resultados desta dedicação aparecendo. É um alívio ver que as coisas estão acontecendo e isso me alimenta de mais força e coragem. É tanta gente me ajudando que seria injusto dar nomes. Mas sou grato a todos pela cooperação.

O esforço valerá a pena, pois, como diz meu pai, citando Pessoa, "tudo vale a pena quando a alma não é pequena"...

Um abração a todos!